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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A ARTE RUPESTE NO NORDESTE DO BRASIL: TRADIÇÕES RUPESTRES


 A ARTE RUPESTE NO NORDESTE DO BRASIL: TRADIÇÕES RUPESTRES
1)   A necessidade do homem pré-histórico de se expressar
O surgimento do homo sapiens no período paleolítico superior aproximadamente 50 000 anos, está associado à formação cultural, pois essa espécie será a mais capaz se expressar, fabricar instrumentos cada vez mais sofisticados, adornos e vestimentas, expressar seus sentimentos embora o desenvolvimento da linguagem venha ser posterior, o homo sapiens tinha grandes habilidades em se adaptar ao seu ambiente geográfico e social, como se observa nas sociedades tribais. Essa interatividade que o homem tinha com a natureza, tentando extrair o que ele necessita para sobreviver, criou certa hostilidade ao qual ele tenta vencer-la utilizando sua criatividade cerebral pra assim subjugá-la e entender-la. Nesse empenho de procurar entender a natureza e seus fenômenos tinha dificuldades de compreendê-la plenamente, levando a magia e com a magia se desenvolveu paralelamente a arte nos final do paleolítico.
2)  A concepção religiosa na formação das pinturas rupestres
                  Isso nos leva a crer que as pinturas rupestres estariam ligadas de certa maneira aos rituais animistas do homem pré-histórico, pois as artes, a religião e a magia estão ligadas intrinsecamente a expressão de sentimento e emoções da vida cotidiana, que gradualmente era necessária para preencher a lacuna psicológica da espécie humana, em compreender sua cosmologia e suas dificuldades de conhecer os fenômenos naturais do universo em que vive.
Hauser nos leva a algumas indagações sobre os motivos e objetivos que estão por trás dessas manifestações de arte. [1]“seria ela uma manifestação de um prazer que por si mesmo se impunha ao registro ou repetição? Seria a satisfação de um instinto lúdico que impelia a cobrir as superfícies vazias com linhas e formas ver bisontes”.
Os motivos e objetivos são variados, mas cabe a nós ressaltar que a arte se encontra intimamente a serviço da vida, do cotidiano, das transmissões de valores, de cultura e da história social desse homem primitivo.
3.  O cotidiano social do homem pré-histórico revelado nas artes rupestres



 A fotografia mostra a cena de uma caçada bem sucedida pelo grupo denotando seu cotidiano, sua sociabilidade, seus rituais, sua pedagogia de grupo, os valores e atos heróicos trazendo à tona a idéia primitiva de guerreiro muito desenvolvida nas comunidades tribais, sendo ensinadas as gerações seguintes. As artes rupestres nos fascinam pelo fato de não a compreendermos bem os seus significados e objetivos, nos encantam pela simplicidade animista de expressar o mundo ao seu redor, nos trazendo para dentro do mundo pré-histórico, compartilhando seu cotidiano e seus sentimentos e emoções.
4. As artes rupestres no nordeste brasileiro
   A maioria dos grafismos encontrados no nordeste data provavelmente de seis milênios antes da era cristã, com estudos realizados, dá para se ter certeza que não eram obras de arte, nesse sentido moderno que empregamos a palavra arte. Segundo Prous [2] “O mais provável é que a maioria dos grafismos tenha sido feita como afirmação de etnicidade, expressão de uma crença, ato mágico, proclamação política de status, trato ou posse”.
  Para Prous o reconhecimento da existência dês complexos temáticos estáveis ao longo de séculos e milênios levou a arqueologia e definir as tradições rupestres, que variam numa escala menor de região para região, convém notar que os grafismos não estão presentes em todo território nacional central ou nordestino, até mesmo pela questão geográfica que como, por exemplo, no litoral a ausência de rochedos e cavernas, supõe-se que a população primitiva dessas regiões usasse as arvores par deixar suas marcas. Prous nos dar três seqüências regionais cujas unidades estilísticas muitas vezes se propagam para longe do seu centro inicial, influenciando-se mutuamente, os sítios da região de São Raimundo Nonato (PI) serviu de base para estabelecer a seqüência do nordeste brasileiro.
 Conforme Prous o conjunto de pinturas mais antigo é formado por representações humanas agrupadas em cenas eventualmente acompanhadas por animais. É esse grafismo que define a “Tradição Nordeste” que teria se desenvolvido entre 12 000 e 6 000 anos atrás.

 Essas representações humanas mostram cabeças ornamentadas, isoladas os desenhos parecem de maneira assexuada, porém quando denominadas em grupo o sexo é indicado de maneira convencional. Os personagens são geralmente muito dinâmicos. Formam cenas familiares, geralmente dois adultos e uma criança, muitas das figuras denotam relações sexuais, cenas de árvores etc. Prous por volta de 9.000 anos atrás as cenas de violência e varias outras cenas referentes a combates etc.

5.  Tradições rupestres no Brasil
 As tradições são estabelecidas pelos tipos de grafismos representados e pela proporção relativa que estes tipos guardam entre si. Dentro das tradições podem-se, às vezes, distinguir sub-tradições segundo critérios ligados a diferenças na representação gráfica de um mesmo tema e à distribuição geográfica. Para cada tradição, ou se for o caso, sub-tradição é possível distinguir-se diferentes estilos que são estabelecidos a partir de particularidades que se manifestam no plano da técnica de manufatura gráfica e pelas características da apresentação gráfica da temática. Duas das tradições, a Nordeste e a Agreste, já puderam ser datadas graças aos resultados das escavações e sondagens.
5.1  Tradição Nordeste:
Ela é caracterizada pela presença de grafismos reconhecíveis (figuras humanas, animais, plantas e objetos) e de grafismos puros, os quais não podem ser identificados. Estas figuras são, muitas vezes, dispostas de modo a representar ações, cujo tema é, às vezes, reconhecível. Os grafismos puros, que não representam elementos conhecidos do mundo sensível, são nitidamente minoritários. As figuras humanas e animais aparecem em proporções iguais e são mais numerosas que as representações de objetos e de figuras fitomorfas. Algumas representações humanas são apresentadas revestidas de atributos culturais, tais como enfeites de cabeça, objetos cerimoniais nas mãos, etc. As composições de grafismos representando ações ligadas sejam à vida de todos os dias, seja à cerimonial são abundantes e constituem a especificidade da tradição Nordeste. Quatro temas principais aparecem durante os seis mil anos atestados de existência desta tradição: dança práticas sexuais, caça e manifestações rituais em torno de uma árvore.

 Graças à abundância de sítios e à sua larga distribuição espacial e temporal pudemos classificá-la em sub-tradições e estilos. Atualmente conhecemos as sub-tradições Várzea Grande e Salitre, no sudeste do Piauí e a sub-tradição Seridó, no Rio Grande do Norte.
5.2   As sub-tradições:
A) A sub-tradição Várzea Grande:
 A mais bem estudada e representada, está dividida em estilos que se sucedem no tempo: Serra da Capivara, o mais antigo, Complexo estilístico Serra Talhada e Serra Branca, estilo final na área de São Raimundo Nonato. O estilo Serra da Capivara apresenta grafismos cujos contornos são completamente fechados, desenhados por traços contínuos e uma boa técnica gráfica. Na maioria das vezes, sobretudo quando o tamanho o permite, as figuras são pintadas inteiramente com tinta lisa. As representações humanas são pequenas, geralmente menores que as figuras animais. Estas últimas são, em geral, colocadas em um local visível e dominam o conjunto das composições; a cor dominante é o vermelho.

 Apresenta figuras humanas com uma forma muito particular do corpo, o qual foi decorado por linhas verticais ou por traçados geométricos cuidadosamente executados. Geralmente os animais são desenhados por uma linha de contorno aberta; alguns têm o corpo preenchido por tinta lisa, mas a maioria apresenta um preenchimento geométrico semelhante àquele dos seres humanos. O complexo estilístico Serra Talhada é muito mais heterogêneo e possui diversas características classificatórias que não estão sempre presentes em todos os sítios pertencentes à classe, mas quando uma falta outra está representada.
5.3 A tradição Geométrica:
 São caracterizadas por pinturas que representam uma maioria de grafismos puros e algumas mãos, pés, figuras humanas e de répteis extremamente simples e esquematizadas. Esta tradição, segundo informações ainda pouco abundantes, pareceria ser originária do nordeste do Estado do Piauí. É na Serra de Ibiapaba, limite com o Ceará, onde existe a maior concentração até agora conhecida. O Parque Nacional de Sete Cidades é portador de sítios pertencentes a esta tradição de pinturas. Na área do Parque Nacional Serra da Capivara, esta tradição aparece isolada em um único sítio na planície pré-cambriana, mas aparece também como intrusão gráfica em outros sítios, pois alguns grafismos foram feitos sobre painéis em abrigos das tradições Nordeste e Agreste.
5.4              Tradição Itacoatiaras de Oeste:
 Representada unicamente por grafismos puros, existe desde a fronteira da Bolívia até o limite oeste da área do Parque Nacional, indo para o sul, onde aparece até o norte de Minas Gerais. Os painéis desta tradição ornam paredes situadas perto de cachoeiras, lagos, fontes ou depósitos naturais de água. Um único sítio dessa tradição aparece na área do Parque Nacional, mas fora de seus limites.

É preciso também fazer menção de um único sítio de gravuras que apresenta características que são diferentes das duas tradições de gravuras acima mencionadas.
5.5              Tradição Itacoatiaras de Leste:
É uma tradição típica de todo o Nordeste brasileiro e seus painéis ornam as margens e leitos rochosos de rios e riachos do sertão, marcando cachoeiras ou pontos nos quais a água persiste mesmo durante a época da seca. O que pode ser também encontrado no Lajedo de Soledade.
5.6              Tradição Agreste:
Cor vermelha e amarela. Dentro da tradição agreste encontram numerosos sítios rupestres no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí, com maior concentração de sítios, até agora assinaladas no Agreste pernambucano, motivo pelo qual leva este nome. As características da tradição Agreste são grafismos de grande tamanho sejam eles de composição ou puros 15 á 30 cm. Geralmente eles desenhavam aquilo que eles viam no seu dia-a-dia, com pinturas soltas sem um contexto ou até mesmo do seu inconsciente (fruto da sua imaginação), tendo cenas raras de grafismos de ação, o que é também uma característica da tradição Agreste. Típico da Tradição Agreste é a representação de desenhos grotescos, também de pássaros de asas abertas e longas penas. O que pode ser visto no Lajedo de Soledade – Apodi-RN.
Até hoje não foi realizada nenhuma escavação, unicamente algumas sondagens, em sítios pertencentes às outras tradições de registros rupestres da área. Deste modo, pouco pode adiantar sobre elas além de uma descrição sumária.

Existem muitas dificuldades em manter os parques arqueológicos, as falta de incentivo para formular estudos sobre os sítios e o desprezo pelo patrimônio cultural do homem pré-histórico, a degradação provocada pela natureza e pela ação humana, tem contribuído para a destruição do patrimônio histórico deixado pelo homem e pelos animais pré-históricos, essa riqueza está sendo desprezada quando não valorizamos nossos sítios arqueológicos e quando não existir políticas de incentivo a propagação da cultura, quando o homem pré-histórico deixar de ser visto como marginalizado, mas como um produtor de cultura no seu tempo evolutivo. As artes rupestres e as gravuras deixadas pelo homem pré-colombiano nos fascinam, com a simplicidade ao qual descreve suas emoções seu cotidiano, embora muitos dos símbolos ainda não foram decifrados, e nós sabemos muito pouco desse homem que habitou o continente americano, alguns arqueólogos com trabalho árduo tem investigado essa ação humana e nos tem lançado luzes no modo de vida deles. Há muito a se fazer para que consigamos estudar e preservar a historia desse homem.
O mundo pré-histórico me fascina, as artes rupestres e as gravuras como também os vestígios líticos tem muito a revelar-nos, sobre o desenvolvimento do homem americano, seu processo evolutivo, suas rotas de migração, seus costumes e cultura. Não podemos desprezar essa riqueza histórica e cultural, se deixarmos a mercê dos morcegos e da ação de vândalos perderemos parte da nossa história, e já temos muitas lacunas que ainda não foram preenchidas e acredito que algumas nunca serão.

[1] HAUSER, Arnold. The social history of arts (História Social da Arte)
[2]  PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história de nosso país.

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