HOBSBAWM, Eric. Era dos
extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Capítulo 1, p. 29-60 (“A era da guerra total”)
No
primeiro capítulo de seu mais famoso livro, Eric Hobsbawm vai expor suas idéias
sobre as duas Grandes Guerras mundiais, bem como o período de vinte anos de
interregno entre as duas. Porém, Hobsbawm vai ser claramente a favor de
compreender as Grandes Guerras do século XX como uma única grande guerra de 31
anos. Uma guerra que começa em 1914 com o assassinato de Francisco Ferdinando e
termina com as bombas americanas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki em 1945.
Vai ser esta a principal tese que o autor vai defender neste capítulo,
apontando as características deste período da História. Além de também defender
esta única Grande Guerra, em decorrência disso, defende a teoria de um período
de guerra total, ou seja, quando todos os recursos e atenções das principais
potências do mundo estão voltados basicamente para os esforços da Guerra.
Na
primeira parte de seu primeiro capítulo, o historiador vai falar um pouco mais
sobre a Primeira Guerra Mundial, embora deixe bem claro que já tenho falado
melhor sobre ela e sobre suas causas em seu livro anterior, Era dos Impérios.
Hobsbawm aponta que, antes de 1914, o mundo passou por 100 anos de relativa
paz, apenas interrompida pela Guerra da Criméia, entre 1854-6. Em 1914 o mundo
vai entrar em uma guerra que vai durar 31 anos e vai deixar milhões de mortos
no mundo todo literalmente.
Até
então não houvera, em absoluto, guerras mundiais. Tudo isso mudou em 1914. A
Primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos
os Estados europeus, com exceção da Espanha, os Países Baixos, os três países
da Escandinávia e a Suíça. Embora a ação militar fora da Europa não fosse muito
significativa a não ser no Oriente Médio, a guerra naval foi sem dúvida global,
assim como na Segunda Guerra Mundial.
Para
Hobsbawm, o que de muito importante vai marcar esta guerra, o que a diferencia
das anteriores é o número de mortos em decorrência dela. Segundo ele, 1914
inaugura a era do massacre. Em quatro anos de guerra, os franceses perderam 800
mil pessoas; os franceses 1,6 milhão; a Alemanha 1,8 milhão e os EUA 116 mil.
Hobsbawm
não entra em detalhes sobre as razões da Primeira Guerra, passa por cima disso.
Porém, ele diz que, então como na Segunda Guerra Mundial, os alemães viram-se
diante de uma possível guerra em duas frentes: A frente oriental contra a
Rússia, e a frente ocidental contra França e Inglaterra. Foi esta última frente
que se tornou uma máquina de massacre sem precedentes na história da guerra.
Esta
frente ocidental ficou por dois anos nem verdadeiro impasse. Ninguém progredia
e ninguém recuava. Foram anos em que o front de batalha não se mexia. A guerra
era ininterrupta, porém, sem grandes vitórias em batalhas para nenhum dos
lados. É deste período que alguns sobreviventes vão tirar suas “forças” para
suas idéias sobre a guerra, como Adolf Hitler: eram os frontsoldat, sendo esta
uma experiência formativa da vida.
Enquanto
isso, a frente oriental continuava em movimento. Os russos foram os que mais
perderam homens com a guerra. Em 1917, quando o país entra em sua própria
revolução, se retira da guerra após acordos com a Alemanha e a guerra no
oriente é cessada apenas por alguns anos.
Com
uma superioridade tecnológica e numérica, os ingleses e americanos conseguem
romper o impasse na frente ocidental e avançam, aos poucos, sobre Berlim.
Ao
final da guerra surge um problema recorrente: como dividir as “pilhagens” de
uma guerra. O Tratado de Versalhes vai ser discutido e assinado pelas potências
vencedoras, o que vai gerar grande revolta dos países perdedores,
principalmente da Alemanha que sai humilhada do conflito: perde território, tem
que pagar indenizações, seu exército é limitado, dentre outros. O presidente
americano Woodrow Wilson ainda tenta impor sanções menos humilhantes à
Alemanha, mas Inglaterra e França não permitem isso.
Ao
final da Guerra também é criada a Liga das Nações, um verdadeiro fracasso da
diplomacia da época. Seu principal objetivo era evitar uma nova guerra daquelas
proporções, e menos de vinte anos depois, o mundo já estava mergulhado em uma
guerra mais violenta ainda, segundo Hobsbawm, uma continuação da primeira.
A
segunda parte do capítulo vai tratar da Segunda Guerra Mundial. Basicamente,
Hobsbawm vai apontar algumas causas desta guerra, sempre tendo em mente que a
Segunda foi uma continuação da primeira. Os países em conflito eram basicamente
os mesmos contra os mesmos; quem iniciou a agressão mais uma vez foi a
Alemanha; o mundo sentia os efeitos da Crise de 1929 e, Alemanha e Itália
encontraram maneiras inéditas para saírem desta crise econômica: o fascismo.
De
fato, Hobsbwm não explicita muito bem suas ideias sobre o período entre guerras.
Chega mesmo a simplificar dizendo que os motivos da Segunda Grande Guerra podem
ser resumidos na pessoa de Adolf Hitler. Outro motivo também apontado pelo
autor foi a Política do Apaziguamento. Ele não fala desta política com estes
termos, mas diz que a política de não intervenção na expansão nazista
proporcionou que Hitler ganhasse cada vez mais poder. As potências Aliadas
acreditavam que seu verdadeiro inimigo era a URSS. Isto se demonstrou, pelo
menos naquele momento, um grave erro.
A
Segunda Guerra foi marcada por uma incrível superioridade alemã nos primeiros
anos de guerra. A máquina de guerra nazista vinha sendo construída desde o
começo dos anos 1930 quando Hitler assumiu o poder. Até 1942, Hitler conseguiu
avançar tanto pela frente oriental como pela frente ocidental conseguindo
tomar, por exemplo, a França com incrível facilidade.
A
entrada dos norte-americanos por um lado e o avanço russo pelo outro, fez com
que a Alemanha fosse perdendo cada vez mais seus ganhos territoriais. A Itália
já havia deixado a guerra em 1943. O Japão foi o último país do Eixo a se
render incondicionalmente após as bombas atômicas. Esta guerra, assim como a
primeira, foi uma guerra total. Só pelo lado soviético, foram cerca de 20
milhões de mortos; de judeus em Campos de Extermínio, foram perto de 5 milhões.
No total, cerca de 40 milhões de pessoas, entre civis e militares perderam suas
vidas nesta guerra. Esta também foi a primeira guerra em que não houve nenhuma
distinção entre alvos civis e militares. E isto se deve ao motivo de que, com o
aumento da tecnologia, a distância entre a pessoa que aperta um botão e a
pessoa que morre em decorrência disso é muito grande, ou seja, quando uma
pessoa não vê em quem está atirando, seu objetivo deixa de ser matar pessoas e
passa a ser apenas o de acertar alvos e cumprir missões.
Enfim,
Hobsbawm quer defender neste capítulo a continuidade das guerras, a segunda
sendo decorrência da primeira e o período entre guerras como sendo apenas um
intervalo para as potências centrais se rearmarem e partirem de novo para um
conflito total, onde pela primeira vez, sistematicamente, não houve divisão
entre civis e militares; não houve campos de batalha. As batalhas podiam ser
travadas em qualquer lugar, principalmente nas cidades civis, o que levou a
Segunda Guerra Mundial a ser o conflito mundial com maior número de mortos em
relação ao tempo de guerra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário