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sábado, 23 de fevereiro de 2013

mensuração da realidade




Desde os tempos antigos os homens vêm buscando compreender o que é o tempo, Santo Agostinho fica intrigado quando não consegue explicar o que é o tempo, existe essa dificuldade dialética/metafisica de conceber uma explicação lógica para o tempo. Chegando ao século XVI o tempo conquista a Europa e se transforma numa das mais importantes categorias de definição. Portanto, a civilização Ocidental agora tem o fator tempo como uma categoria que define a identidade da civilização Ocidental (pág.81,82). Em detrimento a outros povos que não contam o tempo, os europeus não consideram como civilizados.
Em a mensuração da realidade Crosby discute a instantânea passagem da percepção qualitativa para a percepção quantitativa na Europa Ocidental no final da Idade Média e no período da renascença. Advindos dessas mudanças a ciência moderna se desenvolveu tecnologicamente, junto com o comercio e a burocracia. Entretanto essas mudanças não afetaram apenas o evidente, que são as medições do tempo e do espaço como também os procedimentos matemáticos, mas também de modo igual, afetou os campos da musica, das artes (Pinturas), mostrando a profundidade das mudanças ocorridas.
Como podemos perceber, as concepções ocidentais foram se modificando á medida que modificou a experiência dos europeus (Pág. 58). A concepção de tempo na Idade Média era canônica, ou seja, relacionado à tradição e a religião, não havia a necessidade de um tempo exato em sim (pág. 82).
Para os camponeses os horários estavam relacionados com clima, nascer e pôr do sol, e era essa percepção que guiava o tempo do camponês medieval (pág. 82). Já nas cidades as horas tinham uma grande importância, demonstrando assim a nova concepção de quantificação através da introdução do elemento comercial, antecedendo até mesmo a compreensão capitalista que tem o tempo como dinheiro. Nas cidades o relógio era muito mais do que um elemento decorativo e transcendeu a concepção canônica e qualitativa para uma concepção quantitativa, satisfazendo assim as atividades comerciais, como também dava uma vida cronológica aos seus habitantes e visitantes.
Crosby sai à procura de uma explicação semântica indo beber das concepções de varias línguas ocidentais desde o inglês ao alemão, chegando à conclusão que o significado da palavra relógio tem o significado de sino nessas línguas, trazendo consigo o instrumento canônico de medição do tempo desde a Idade Média a Renascença. Os sinos eram muito importantes na Idade Média, marcavam o tempo canônico, sem sinos disse Rebelais, “É como um cego sem bengalas” (pág. 83), a marcação do tempo era sempre canônica, ou seja, determinavam o tempo das orações, mas sem terem uma preocupação com a precisão minuciosa.
Para o morador dos burgos o relógio tinha um valor prático e a introdução da qualificação, todavia isso não significa que com essa compreensão do tempo qualificado. Fazendo um trocadilho com a lógica o autor nos diz que “se a história fosse lógica, um astrólogo ou um monge” teria inventado o relógio mecânico (pág. 83). Os astrólogos tinham a sua função de definir a posição dos planetas moveis, e o tempo em que nasceriam ou morreriam os reis, papas e os ricos da sociedade. Já os monges tinha uma rotina com as matinas de oração e era complicado manter a métrica temporal exata, sem o relógio mecânico eles mantinham um recurso métrico peculiar.
Nas últimas décadas do século XIII a Europa Ocidental passou por um período de inventos e avanços tecnológicos, com intuito de auxiliar as tarefas dos homens e segundo o autor foi em meados de 1270 que o relógio mecânico foi inventado, pois depois em 1300 houve um aumento de citações em escritos sobre as chamadas maquinas de medir o tempo (pág. 85). Mudou-se a forma de se conceber o tempo, e nessa evolução dos relógios mecânicos, os primeiros relógios mecânicos continham apenas sinos, o tempo qualificado já era uma realidade presente na Europa Ocidental (pág.85). E na compreensão de muitos o “tempo era um fluxo não fracionário” (pág. 85), e difícil de medir e de imitar sua passagem continua, e assim muitos inventores levam séculos tentando fazer essa tarefa. Mas não conseguiram fazer “um modo prático de medir longos períodos por esses meios”. Quando se parou de pensar o tempo como um “fluxo continuo” e passou-se a pensar o tempo como uma sucessão de quantidades, a coisa mudou, entretanto existia um problema, “como assegurar que a primeira hora assim medida tivesse a mesma duração da última?” em resposta a essa pergunta foi inventado o escapo, vejamos como funcionar o escapo:

“A energia da mola viaja pelos cinco componentes do conjunto de engrenagens, tendo a roda de escape com sua última peça. A roda de escape trava e libera intermitentemente (e, consequentemente, trava e libera todo o conjunto de engrenagens, ocasionando a marcação do tempo), já que a primeira palheta de rubi imobiliza a roda de escape, a libera, sendo, então, parada pela outra "levée" de rubi. A roda do balanço (através de um rubi, a "elipse") move a âncora e suas "levées" para frente e para trás em intervalos regulares. O balanço, portanto, calcula o movimento da âncora, que trava e libera a roda de escape. Tudo aquilo é para isto, pelo menos em tese. Aqueles que não desejam detalhes desta operação não precisam ler adiante.” (ODETS 2013)[1]

Embora a invenção do escapo não tenha solucionado os mistérios do tempo, ele deu ao homem o poder de domesticar o tempo. É bem verdade que o relógio mecânico não foi uma propriedade peculiar do Ocidente, os chineses já possuíam no século x esses gigantescos relógios. Mas seu aperfeiçoamento e utilização sem dúvidas se mostrou singular no Ocidente caindo no gosto e transcendeu as horas desiguais pelas horas similares (pág.87). Neste contexto os primeiros capitalistas perceberiam a necessidade de horas iguais para assim fazer com que o trabalhador executasse suas atividades por mais tempo principalmente no inverno. E nesse sentido as horas desiguais foram substituídas pelas iguais e a partir daqui passaram há pensar o tempo como homogêneo (pág.87). “Foi nas cidades europeias que pela primeira vez na historia o tempo foi começou a ser isolado como uma forma pura e externa a vida” (pág.87).
Segundo o autor os efeitos do relógio foram múltiplos e imensos, eles exigiam pericia e técnica para o especialista. Trouxe aos Ocidentais um “novo meio de imaginar ou de meta-imaginar” (pág.88). A chamada maquina do mundo passara a ser imprescindível a essa civilização. Era fascinante essa maquina, e durante gerações o relógio da cidade fora o único mecanismo complexo que milhares de pessoas viram, dias e noites. O relógio apresentou um ensinamento de que o “tempo, invisível, inaudível, ininterrupto, era composto de quantidades” (pág.90). Isso explica o fato dos europeus Ocidentais terem priorizado a medição do tempo em detrimento a reformular seu calendário. Com a entrada de Deus no tempo encarnado de Cristo, sacralizou algumas datas, da qual o autor destaca a “Pascoa” que provocou grandes discussões da exatidão da data. A discrepância do calendário Juliano e a realidade solar correspondia á 11 dias em 1582 (pág. 92).
O papa Gregório XIII convocou uma conferencia com especialista para assim reformar o calendário Juliano, passada essa revisão o novo calendário ficou conhecido como gregoriano. Com efeito, dessa revisão “a diferença entre o ano abstrato do calendário composto de dias inteiros e o ano solar real, composto de 365 dias e uma fração” (pág.92). A reforma do calendário não agradou muita gente, desde católicos fervorosos, protestantes e filósofos, não concordavam com o papa, principal mentor desta reforma no calendário Juliano, entretanto diante de uma batalha calorosa, a reforma gregoriana saiu vitoriosa, mas não pelo fator de ser perfeita, mas porque era prática (pág.93).
Foi uma mudança de percepção do tempo foi drástica para os ocidentais, todavia já a percepção do espaço não foi assim. Em relação ao espaço não ocorreu um salto tecnológico tão grande quanto na percepção do tempo. Segundo Crosby “a transformação da percepção ocidental do espaço, culminou em mudanças tão radicais quanto as que abalaram a física no inicio do século XX, começou como em passo de tartaruga” (pág.99).
Com a invenção da bussola, associada ao desenvolvimento da cartografia, foi possível aos navegadores arriscarem mais e a buscarem novos espaços. Os mapas existentes permitiam uma navegação costeira como no mediterrâneo, para os navegadores oceânicos era necessário possuírem mapas para assim calcular rotas por todo planeta. Segundo Crosby “o passo seguinte na cartografia seria tirar da área e da forma, além da direção e da distancia” (pág.101). O conceito de traçar mapas de conformidade com uma grade de linhas, já existia tanto na Europa Ocidental, quanto em outras regiões no inicio do século XIV (pág.101). Com a descoberta de um exemplar da geografia de Ptolomeu em meados de 1400, provocou uma mudança na percepção espacial semelhante ao invento do escapo para a percepção do tempo (pág.101).
A contribuição de Ptolomeu consistia em “tratar a superfície da terra como um espaço neutro, chapando sobre uma grade, um quadriculado de coordenadas calculadas de acordo com as posições de corpos celestes” (pág.101). Dando a Europa dos anos 400 três processos diferentes e matematicamente coesos que davam para representar a superfície curvada da terra em mapas planos. De acordo com (Falcon 2006) “As várias experiências das cruzadas e do comercio intercambiaram valores que configuram novos interesses aceleram a curiosidade dos europeus ainda medievais” (FALCON 2006 p.73)[2] com os avanços na cartografia e o contato dos europeus ocidentais com outros povos, e esse choque de culturas proporcionado pelo comércio fez com que o conhecimento se ampliasse, caindo teorias como o geocentrismo que deu lugar ao eliocentrismo.  Segundo (Silva 1990), “as grandes descobertas no litoral africano, e com a consciência de que Ptolomeu, Plinio e os demais sábios estavam errados, pois o mundo não acabava do Cabo não”. (SILVA 1990, p.24)[3].
Colombo atravessa o Atlântico e chegando as Américas em 1490 e em 1500, Cabral chega ao Brasil. Crosby nos diz que “A revolução Copernicana foi imensa, não apenas por seu rebaixamento da terra, mas também por suas implicações para a quantidade e a qualidade do próprio espaço” (pág.107).  Giordano Bruno foi o primeiro pensador de renome a proclamar a teoria Copernicana e suas implicações, entretanto foi morto pela inquisição. Sendo o “espaço homogêneo e mensurável a analise matemática” (pág.108), e, portanto passivo de ser mensurado pelo homem, isso foi uma grande descoberta que darão suporte para varias outras nos séculos seguintes.
Por Elson Cassiano
Historiador/UERN


[1] ODETS, Walt. O escapamento de âncora, (Tradução livre por Flávio Maia), disponível em: http://www.relogiosmecanicos.com.br/escapamento.html Data: 10/02/13.
[2] FALCON, Francisco; RODRIGUES, Antônio Edmilson. A formação do mundo moderno: a construção do ocidente dos séculos XIV ao XVIII. 2ª Ed. Rio de janeiro: Campus, 2006. (Cap. 3).
[3] SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Conquista e Colonização da América Portuguesa. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. Rio de janeiro: Campus, 1990, pp.15-68.

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