Antes de entrar na
referida questão, optei por fazer um panorama histórico da ascensão do governo
fascista na Alemanha, e tal compreendemos que no contexto social, político e
econômico da Alemanha pós-primeira guerra mundial era devastadora, tudo o que
se podia ver era miséria e calamidade. Com essa visão de uma Alemanha
destroçada e humilhada, podemos compreender o crescimento do antissemitismo, e
dos atos de extrema violência realizados pelos grupos nazistas, como na
descrição de Richard 1998, “O terror sempre latente, a impotência e o desespero
da população”. (RICHARD, 1998, p.85)[1]. O
partido nazista fora fundado em 1921 e segundo Richard 1998, contava somente
com 9000 membros, entretanto esse número cresceu gradualmente de maneira
espantosa chegando em 1923 á 2,6% dos votos válidos. A sociedade alemã não
estava gerando de imediato o embrião nazista, mas estava dando os primeiros
passos para que isso fosse possível.
O processo de ascensão
dos partidos de extrema direita na Europa se alimentava da destruição, miséria
e inflação e também da incapacidade da democracia-liberal de solucionar esses
problemas, entrando em crise profunda. O processo de ascensão nazista iria
percorrer um caminho gradual e rápido, eleição após eleição iria aumentando sua
representação no parlamento alemão. Numa sociedade onde a miséria era constante
e causada pelo fenômeno da inflação, afetou milhares de cidadão alemães, esse
foi o saldo deixado pela guerra, que levou a Alemanha a se endividar e assim
criando uma monstruosa crise financeira que devastou o país e que se agravou
pelo o obrigatório pagamento de indenização aos países vencedores, articulado
pelo Tratado de Versalhes, além de perder suas colônias e autonomia militar. Isso
provocou um profundo ressentimento principalmente nos veteranos de guerra e de
parte da população que vivia nestas condições sobre-humanas. Essas são a base
do partido nazista endossada por um nacionalismo extremo, explorando
brilhantemente o sentimento nacional e a catástrofe do sistema
democrático-liberal de solucionar a devastação do país.
Todavia existe um
período entre a catástrofe social, democrática e financeira, onde ocorreu uma
recuperação econômica e industrial da Alemanha (1924-1929), motivada pelos empréstimos
norte-americanos, com a entrada do capital estrangeiro a situação mudara
radicalmente neste período, de um país devastado pela inflação e pelo
desemprego que levou consigo a degradação da moralidade e dos bons costumes,
para uma Alemanha de prosperidade, que inspirava confiança para investidores
estrangeiros. Richard 1998, assim descreve o entusiasmo alemão neste período,
“A vitalidade dos Estados Unidos, sua modernização, são oferecidas como exemplo
e estimulam uma propaganda que anuncia por toda parte, após a crise, a
felicidade para todos.” (RICHARD 1998, p.108). E isso aconteceu, entretanto com
pouca duração, mostrando a fragilidade da economia alemã dependente do capital
estrangeiro. Com a quebra da bolsa de Nova York em 1929, a maior crise do
sistema capitalista da historia, iria trazer de volta as terríveis cenas de
1923, degradação financeira, desemprego, miséria e caos.
O partido nazista que
neste período havia meio que hibernado, acorda e com todo vigor, e sua via de
entrada foi os comerciantes, artesãos, profissionais liberais e os empregados
que formou em 1925 a base social da penetração do nazismo.
Mazower questiona a
ação civilizadora dos Estados nacionais europeus, ao dizer que o século XX
inventou através das transformações politicas, sociais, econômica e geográfica,
que se definiu com o colapso da antiga europeia em 1914. Em meio a essa ruina
do antigo regime, os discursos se multiplicaram prometendo uma sociedade mais
justa, emancipando as massas e um Estado democrático seguro. Wilson, Lenin e
Hitler e suas ideologias rivais, “democracia liberal, comunismo, fascismo”,
julgavam-se destinada a refazer a sociedade e o mundo numa Nova Ordem Mundial.
E segundo Mazower essa luta de ideologias rivais foi incessante para definir a
Europa moderna e ocupou grande parte do século XX. (pág.10). Entretanto as
ideologias vencedoras, democrático-liberal e comunismo, não conseguiram
construir em curto prazo um “mundo melhor” que era sua inspiração.
Entraremos agora para o
que nos interessa em relação à questão proposta acima, á analise da “Nova Ordem
de Hitler”, Havia certa desconfiança de que a Alemanha estava planejando
implantar uma Nova Ordem Europeia, e nesse contexto havia muitos europeus
dispostos a abandonarem a ordem democrático-liberal inserido pelos países do
eixo vencedor da primeira guerra mundial em 1918 e adotar um futuro mais
autoritário. Contudo os que viam com bons olhos esse futuro autoritário se
depararam com a politica imperialista brutal, junto com a volta da escravidão,
negação de todas as aspirações nacionalistas exceto a alemã. Entre 1938-1945
foi um período de agitações para saber quem iria determinar o rumo da Nova
Ordem, do qual o autor nos diz que foi crucial para o desenvolvimento da Europa
no século XX.
A guerra envolvia muito
mais do que confrontos militares, e negociações diplomáticas, era uma luta pelo
futuro social e politico do continente europeu e de quem iria comandar essa
Nova Ordem. Após oito anos de submissão a um regime de violência, xenofobia e
atrocidades, com sua derrota abriu-se um novo horizonte não somente para a
Europa, mas também para o mundo cansado de guerras, redescobrindo as virtudes
da democracia que andava em cheque.
Mas vamos analisar mais
profundamente o caminhar dessa Nova Ordem que Hitler queria implantar na
Europa, primeiro podemos perceber a priori que a Europa não estava indisposta a
ter a Alemanha como cabeça na construção dessa Nova Ordem Europeia, e segundo
Mazower, “a base de uma Nova Ordem que rejeitou a herança de Versalhes ia muito
além dos radicais pró-nazistas ou fascistas. A desconfiança do poderio alemão
mesclava-se com a admiração pela recuperação econômica da Alemanha”. Para o
povo que vivia na miséria e sem esperanças de sobreviver diante do caos que se
encontrava a Europa entre guerras, os valores democráticos que não resolveriam
a crise os fizeram indiferentes a eles, por que significa a liberdade e a
democracia para o cotidiano deles, o morrer de fome. Abraçar o regime nazista
embora possa corta a sua liberdade democrática resolveria o problema da fome e
da miséria e vemos vários países fazerem isso. Assim a democracia entra num
período de total descrença e passa a ser até mesmo extinta. Com a queda da
França diante do exercito alemão, chega-se o fim de vinte anos de promessas não
cumpridas e foi um golpe na democracia e no sistema liberal. Com a batalha com
a Inglaterra se percebeu que a guerra iria durar mais do que o planejado e com
as possíveis modificações de fronteiras e anexações de territórios, e isso fez
com que a fé na Nova Ordem de Hitler desmoronasse.
A Alemanha estava
bastante confiante com as conquistas militares, fazendo a Nova Ordem de Hitler
prevalecer contra seus inimigos, acreditavam que estavam vivendo um período
histórico. Para os alemães cabia-lhes estabelecer a ordem na Europa central e
no restante da Europa. O entusiasmo era tanto que havia predições de que a Nova
Ordem de Hitler garantiria a paz por mil anos, as conquistas de Hitler deu a
Alemanha muito mais do que ele imaginava, um vasto império. Não existia o
sentimento de partilha ou de estabelecer liberdade e reconhecer independências
nacionais, na Nova Ordem de Hitler, anexava-se os territórios e desmembrava-se
o país e tratava a população tida como raça inferior com extrema violência,
sobre seu governo geralmente ficava a cargo dos militares da SS que governava
em conjunto com os funcionários locais. Mazower irá nos dizer que essa politica
exercida pela Alemanha diante dos países derrotados, era provisória. (pág.151).
Na verdade com a anexação da Holanda, a Alemanha pretendia reconstruir o sacro
império germânico e isso era compartilhado pela SS, pelo partido nazista e pelo
próprio Hitler. Neste período já não havia mais tratados de paz que barrasse o
avanço nazista. Vejamos o que diz Mazower sobre esses intentos alemães,
“No futuro não
nos referiremos mais ao Governo Geral dos Territórios poloneses ocupados, e sim
ao Governo Geral sem dar maior atenção a isso, Gobbels proclamou no verão de
1940; assim, da mesma forma que está pouco a pouco acontecendo no Protetorado,
que hoje se chama apenas Protetorado, a situação se esclarecerá
automaticamente”. (MAZOWER 2001, p.152)
De acordo com Mazower,
o regime nazista tinha uma visão de politica basicamente hierárquica, para eles
a Europa caberia dominar o mundo, mas não somente sob a condição de ser
dominada pelo Hitler, mas achava absurda a ideia de transferir poder aos de
raça inferior aos arianos, tal atitude se mostraria em fraqueza. E isso é
notório quando se fala em seus aliados italianos na criação da Nova Ordem, que
não tinha com bons olhos essa relação fascismo/nazismo, desta forma os
italianos receberiam o mesmo tratamento de raça inferior dos demais países. O
que podemos concluir ideologicamente e historiograficamente é que a Nova Ordem
de Hitler era essencialmente e exclusivamente alemã.
A Europa se organiza
diante do europeísmo nazista, de tal forma que era inserido no plano econômico
e não no politico. “A Nova Ordem envolvia a integração econômica da Europa
Ocidental e a criação de uma zona franca”. (pág.156) Nesse regime de cooperação
e parceria o nazismo até deixava com que seus parceiros lucrassem, entretanto
não era totalmente aceitos dentro do regime. Chegava-se a guerra total, e os
alemães sabiam mais do que nunca que chegara a hora de explorar mais os
chamados países satélites. (pág.160) Explorando e escravizando milhares de
estrangeiros. Transformando a Europa numa entidade racial, extermínio em massa,
aniquilação cultural que ficou conhecido na historia como genocídio.
O genocídio e a
colonização ambos tinham uma ligação que não se podia separar a guerra
provocada por Hitler tinha por objetivo fazer uma completa reconstituição
racial da Europa. A Nova Ordem de Hitler fracassou, junto com sua ideologia
desumana e cruel, dando ao mundo uma nova chance de se redemocratizar-se.
Por Elson Cassiano
Historiador/UERN
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