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sexta-feira, 16 de março de 2012

ILUMINISMO


 Francisco José Calazans Falcon

Falcon começa sua análise com uma consulta etnológica da palavra iluminismo que denota doutrina filosófica, em alguns dicionários doutrina religiosa, movimento filosófico do século XVII na Europa. Dentre os vários dicionários consultados, observou-se a utilização do sinônimo de ilustração, que tem sua significação como, ato ou efeito de ilustrar, educação intelectual etc. O autor destaca essa bigamia sinônima denotação/conotação, iluminismo/ilustração, ele pergunta se é apenas preferencial utilizarmos os termos iluminismo ou ilustração? Ele nos deixa a opção de escolhermos a palavra adequada, pois para os dicionários e enciclopédia ambos estão corretos.

Agora o que pensam os historiadores a esse respeito? As dúvidas persistem também na historia, a problemática da análise rigorosa do conceito de iluminismo segue-se cronologicamente nessa árdua tarefa intelectual de definição do conceito. Foi constatado pelo autor que as palavras e os verbos variam no caminho da definição verdadeira do fenômeno do iluminismo. Destaca o autor que essas palavras foram produzidas não no ápice do iluminismo e sim posterior a ele no século XIX.
Os significados no século XVIII variavam muito, de acordo com o espaço e a cultura e dai se observa que o termo ilustração se adequa ao movimento. Embora a expressão Francesa “lumières”, “luzes” denote um estado de espírito, que liga a um movimento intelectual com a qual os filósofos, os homens das letras franceses são solidários, pois, são os protagonistas do movimento, e luzes implica uma filosofia da história e também um ato de fé. Ele vai nos dizer também que a problemática do vocabulário das “luzes” é ainda uma questão em aberto.
O espaço-tempo do movimento ilustrado, que o autor logo nos leva a compreender que não é tão simples como se pensa, em espaço, Europa, tempo, Século XVIII. Entramos na dimensão cronológica do movimento e são inúmeras as dificuldades em cronologia e geografia do iluminismo. Olhando para a França e sua economia setecentista segundo Labrousse existem lacunas que persistem quanto a variações regionais e locais em relação à tendência geral da economia Francesa do período. Temos um período de expansão em 1730, uma depressão durante essa mesma década, seguido de um período de recuperação na década de 1740 e expansão novamente nos anos 70, seguidos de 25 anos finais, de altos e baixos. Em termos regionais, nacionais e locais, se percebe que a população aumentou, junto com a produção agrícola, industrial, e com a expansão comercial. O que alguns historiadores chamaram de curva da ilustração. Já outros historiadores preferem ver em relação a gênesis do iluminismo ligando-o á revolução cientifica do século XVII, a crise da consciência europeia entre 1680-1720. Conforme Venturi, o apogeu do iluminismo situa-se entre 1740-1770. O movimento das luzes apenas abrangia as instâncias nacionais e locais da França, mas em 1760 o movimento rompeu as fronteiras da Europa, com exceção da Inglaterra, em todos os demais Estados europeus havia movimentos iluministas. Os vinte anos que precedem a revolução de 1789 marcam a etapa final do iluminismo, chegando o fim do chamado movimento ilustrado.
Sobre o espaço geográfico do iluminismo, se começa com a pergunta Europa ou Europas? Os iluministas generalizam a terminologia e associa o iluminismo a uma certa ideia de Europa com uma unidade intelectual, mental, como já foi demonstrado acima que o movimento iluminista em seu início não atingiu todo continente europeu, isso o foi alcançado posteriormente. Sempre que nos referimos á Europa tem-se certa consciência de civilização, culta, iluminada, de uma Europa detentora das luzes e a partir dai nomeia os mundos e os povos como exóticos.
O contexto social do iluminismo de debruça a um movimento de classe média em suas afirmações e negações, nos preconceitos que lutou e nos novos preconceitos que cultivou. O autor com base nisso afirma que nem a velha nobreza, nem o clero teriam sido capazes de liderar a nova sociedade preste a nascer. Seus principais pensadores eram oriundos da classe média, a classe cultural reunia pequenos grupos isolados do povo. Sua autoconsciência de cidadãos do mundo é segundo o autor uma resposta ao próprio isolamento em meio a uma população que não os compreende. O autor nos diz que essa cultura intelectual poder ser compreendida como uma mentalidade de ruptura, que toma suas próprias distâncias em relação á imutável mentalidade arcaica.
Em relação aos agentes sociais Falcon nos diz que os iluministas eram pessoas de toda espécie letrados, tinham profissões liberais ou funcionários do Estado absolutista e até mesmo clérigos, artistas mais variados, nobres e comerciantes.
Num mundo dominado pelo ideológico da religião cristã católica ou protestante, as passagens da transcendência á imanência, a verticalidade á horizontalidade, foi um período de ruptura das tradições e das superstições. A religião e a razão entram em pé de guerra para sobrepor o paradigma. A questão da secularização entra e cena aqui. Essa passagem á imanência associadas às ideias de progresso e civilização que irá definir as relações entre o homem e a natureza. Essa afirmação da imanência privilegia a dialética, homem-natureza, colocando em evidencia o paradigma naturalista e esse racionalismo naturalista irá se constituir um dos pressupostos básicos do iluminismo.
A secularização significou o processo de passagem da transcendência a imanência no campo das teorias políticas, econômicas e sociais. Essa secularização se caracteriza pela emancipação de cada um dos campos particulares do conhecimento, principalmente os que intrinsecamente se refere ao homem. A visão tradicionalista baseada na revelação foi perdendo terreno para a visão imanentista, naturalista e antropocêntrica. Gerando uma nova concepção de mundo e do homem, terrena e humana em contraste a divina e celestial. É enfática a imanência, racionalidade e a relação homem-natureza como a realidade essencial. Com a secularização adveio à crítica ás crenças e práticas religiosas, em nome da razão e da liberdade de pensamento. Com a interpretação bíblica sendo exclusivamente exercida pelo papado, a liberdade de pensamento forneceu as ferramentas para as multiplicações de opiniões da religião, eles afirmavam que a razão era o único critério valido, de acordo com a própria vontade divina. Essa liberdade de pensar dava ao iluminista não a apologia ao teísmo, mas certa tendência ao deísmo. A secularização como realidade histórica tem que ser compreendida não como um movimento linear ou homogêneo. O autor nos orienta a compreendermos a secularização em termos de plural com seu ritmo próprio. E como se percebe a secularização se torna incompatível com o cristianismo. Outro fator que deve ser levado em conta é que o anticlericalismo típico das luzes francesas não se generaliza nos demais Estados europeus. Ele diz que o caminho do racionalismo moderno, historicamente, não consiste na rejeição total do cristianismo, ao contrario ele queria um alargamento doutrinário do cristianismo. Tentaram integrar o cristianismo com a razão.
A luz opõe-se as trevas seguindo nessa metáfora, os iluministas tratam dessa iluminação racional em contraste a iluminação divina. Para os iluministas a razão é ao mesmo tempo modesta e também ambiciosa. A razão é um instrumento de mudanças e alcança isso dando o primeiro passo de mudar seu próprio modo de pensar. Para o iluminista pensar racionalmente, filosoficamente é pensar diferente. Criticar, duvidar e se for necessário demolir.
Na razão há liberdade de se percorrer todos os âmbitos da proibição. Para eles os preconceitos e superstições junto com os ídolos são barreiras que ocultam a verdade e impedem de enveredarmos o caminho da verdade. Para ele a razão iluminista é um instrumento crítico que se dirige a cada individuo naquilo que possui de mais intimo e essencial, sua consciência racional de ser humano. É pensar por si mesmo. Eles criticam a cidade de Deus e erguem a cidade dos homens, natural e secularizada. A sociedade existente dever ser reconstruída em suas bases.
Tudo deveria ser submetido ao tribunal da crítica racional, mas será que o próprio iluminismo não seria passivo de críticas? Kant fez essa crítica. Para eles o homem pode conhecer as leis que regem o mundo material e as próprias sociedades que ele criou e consequentemente conhecendo esses dados tem como construir uma sociedade mais adequada a eles, pela natureza racional do homem, essa sociedade será a melhor sociedade possível para esse homem. Esse modelo racionalista típico do iluminismo junto com o grande avanço das ciências naturais viria a se fixar com verdade absoluta. A grande função do iluminismo é divulgar os grandes avanços alcançados pela razão teórica e prática.
Em relação aos dilemas da razão iluminista, podemos analisar o lugar do sentimento dentro do racionalismo, o otimismo a respeito do mundo no geral repousa segundo o autor no primado de uma razão que se supõe soberana e absoluta. A consequência disso é aceitar o mundo com seus males tal como ele é, pois, somente com o progresso da razão que se chegará o fim das misérias existentes. Para eles era necessário compreender e aceitar esse mundo como o melhor dos mundos racionalmente possível. Não dando importância ao fato de existirem pessoas infelizes ou miseráveis, pois de alguma forma existem os mecanismos que funcionam fazendo com que os males de alguns se transformem no bem de muitos, assegurando o equilíbrio real nas sociedades humanas e na natureza. Socialmente o racionalismo atendia ás atitudes do pensamento racionalista com suas formas de comportamento, denotando a dominação das elites, minimizando os vícios e ridicularizando a virtude. O racionalismo era frio diante de atitudes ou palavras que expressassem emoção, pois tais coisas eram indignas de pessoas bem educadas.
Sobre as reações do público receptor das ideias iluministas o autor nos diz que, tais ideias não encontrava eco o seio do homem comum, especialmente nas mentalidades burguesas. Suas ideias eram tidas como falsas pela pobreza que convivia com a doença e com a fome de seus semelhantes. Sobre as concepções morais se notou uma busca constante pelo prazer e pelo conforto, uma espécie de hedonismo. As pessoas preferiam acreditar na bondade inata do homem em contraposição ao ceticismo iluminista. O racionalismo parecia frio e hostil para a maioria.
O iluminismo sentiu a necessidade de debater os males da sociedade, surgiu o humanitarismo racionalista que era em sua essência pragmático, longe de negar a existência da injustiça social, ou de ficar comovido diante das misérias humanas, esse humanitarismo racional propõe uma atitude ativa e pragmática, destinada a acabar com os sofrimentos dos homens na terra, dando esperanças nos avanços da ciência e técnicas. A crença no progresso e na perfectibilidade do homem garantia de antemão o triunfo da causa humanitarista.
Sobre a consciência da historicidade, a natureza, o problema da historicidade está presente nas obras de Montesquieu, Voltaire e hume. Os enciclopedistas deram destaque á história como demonstração empírica de suas próprias ideias a respeito do homem, da razão, do progresso e do seu próprio otimismo. O verdadeiro cerne da nova historia proposta pelos iluministas estava na fé que depositavam no progresso. Despertado o sentido histórico, seu destino ainda segundo Falcon é incerto. O homem liberto de uma dogmática, e da revelação, ele permanece escravizado à razão.
Quais eram as bases do pensamento iluminista? Falcon na unidade 6 traz como cerne, o pensamento crítico, o primado da razão, a antropologia e a pedagogia.
Em relação à antropologia, Falcon nos diz que a perspectiva unitária do homem abriu o caminho á fragmentação do saber em função da especialização do saber disciplinar cujo objetivo comum era o homem. A antropologia foi elevada a outra categoria disciplinar que fundamenta todos os saberes. Que se define no tripé de temas, humanidade, civilização, progresso.
Por Elson Cassiano

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