Antes
de adentramos nesses movimentos que incendiaram a Europa central e oriental em
1848, e em 1968 na Tchecoslováquia e
nos países árabes no Oriente Médio e Norte da África, devemos entender o que
significa o termo revolução e se esses movimentos podem ser considerados
revoluções. Segundo o dicionário Houaiss revolução se caracteriza assim:
"Grande
transformação, mudança sensível de qualquer natureza, seja de modo progressivo,
contínuo, seja de maneira repentina"; "movimento de revolta contra um
poder estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas instituições
políticas, econômicas, culturais e morais". (Dicionário HOUAISS)[1]
Com
esse conceito podemos observar nas três primaveras características comuns, tais
como reivindicações de melhorias de vida e liberdade dos cidadãos, contudo,
elas são de abrangência variadas, a primavera dos povos em 1848 se espalhou por
quase toda Europa, a primavera de Praga se limitou as instâncias locais da Tchecoslováquia, Já
a primavera Árabe mais recente, abrangeu parte de dois continentes, o norte
africano e oriente médio. Compreendendo as abrangências e temporalidade dos
movimentos revolucionários, poderemos contextualizar e melhor captar as
mudanças ocorridas no pós-revolução. As três primaveras são consideradas
revoluções políticas e populares, se observa o povo nas ruas reivindicando
melhores condições de trabalho, liberdade e igualdade, conceitos esses vindos
da revolução francesa.
A
primavera dos povos em 1848 mais característicos por mudanças estruturais e
políticas como também de cunho social, contra as más condições de vida e contra
o desemprego, fatores estes que fizeram o povo a protestarem nas ruas. Com o
fim das era napoleônica as monarquias europeias se reúnem no congresso de Viena
para barrar as transformações feitas pela revolução francesa, com os monarcas
reunidos decidiu formar a chamada santa aliança, onde se aliam militarmente
contra todos os inimigos que as ameacem. Nesse contexto de alianças,
preservando assim o antigo regime monárquico, contudo, não conseguiram barrar
as revoluções disseminadas pelos ideais da revolução francesa por toda Europa,
em 1848 surgiram varias correntes política disposto a derrubar o regime
monárquico e criarem os Estado democrático. “Em linhas gerais, o contexto
político europeu se via tomado não só pelas propostas liberais oriundas da
experiência francesa, mas também contou com a ascensão das tendências
nacionalistas e socialistas.” (SOUSA, 2012)[2]
Afloravam-se
os movimentos nacionalistas e socialistas, no contexto econômico entre as
péssimas colheitas entre 1846-1848, elevando os preços dos alimentos, que
culminou na queda de consumo de produtos industrializados, consequentemente
provocou demissões em massa de operários nos centros urbanos, dando força aos
levantes que marcariam a revolução dos povos. Os movimentos operários diante da
crise crescem e passam a exigir melhores condições de vida e trabalho, aliados
a forte oposição ao antigo regime monárquico através dos sequentes levantes,
alimentado pelo sentimento aflorado de mudanças nesse contexto de
transformações Karl Marx pública o manifesto comunista defendendo a mobilização
dos trabalhadores. Motivados pelos manifesto comunista varias cidades na
França, Alemanha, Áustria e vários centros urbanos foram tomados por barricadas
de trabalhadores operários. “Apesar dos ideais românticos e das bandeiras
coloridas em favor de uma sociedade mais justa, a “Primavera” não conseguiu
transformar definitivamente a Europa. Contudo, demonstraram a nova articulação
política que estava sendo engendrada”. (SOUZA, 2012)[3], Contudo a partir desses
eventos históricos, a sociedade burguesa alcançou a seguridade de alguns de
seus princípios, mesmo sendo esses movimentos de caráter popular. Segundo Sousa
“Essas revoltas não abririam mão das concepções favoráveis à igualdade civil,
ao fim dos privilégios de ordem feudal, as novas instituições jurídicas e o
acesso aos cargos públicos.” (SOUSA, 2012)[4]
A
burguesia mostrou seu poder mobilizador das massas trabalhadoras em torno de
seus interesses e projetos políticos próprios.
Enquanto
a primavera de Praga após a primeira guerra mundial, com as transformações da
Europa, e no cerne dos conflitos a Tchecoslováquia
sobre influência da União Soviética, se mobiliza numa revolta liderada por
intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco, interessados em promover
grandes mudanças na estrutura política, econômica e social, na Tchecoslováquia.
Esse período começou em 5 de Janeiro de 1968,
quando o reformista eslovaco
Alexander Dubcek chegou ao poder, e durou
até o dia 21
de Agosto quando a União Soviética e os membros do Pacto de Varsóvia invadiram o país para interromper as
reformas.
“As reformas da Primavera
de Praga
foram uma tentativa de Dubcek, aliado a intelectuais tchecoslovacos, de
conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia
e de democratização.
As reformas concediam também um relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficaram conhecidas
como a tentativa de se criar um “socialismo
com face humana”.” (Wikipédia, 2012)[5]
Dubcek
queria reformar o país e tirar as influências de Stalin removendo os vestígios
de despotismo e autoritarismo,
que considerava aberrações no sistema socialista. Revisando a constituição do
país, que propunha garantir os direitos dos cidadãos e os direitos civis. Isso
granjeava o apoio popular e o desagrado dos Soviéticos, pois, acabaria com o
monopólio do partido comunista e se abriria para a livre organização
partidária. A liberdade de imprensa, o poder judiciário independente e a
liberdade religiosa eram propostas pela reforma de Dubcek.
“As propostas foram
apoiadas pela população. O movimento que propôs a mudança radical da
Tchecoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, foi chamada de Primavera de Praga.
Assim sendo, diversos setores sociais se manifestaram em favor da rápida
democratização.” (Wikipédia, 2012)[6]
Temendo
a revolução a União Soviética, mandou tanques do pacto de Varsóvia, invadindo
Praga e deportando o líder Dubcek para Moscou, contudo a população reagiu a
invasão soviética de forma violenta.
“A União Soviética,
temendo a influência que uma Tchecoslováquia democrática e socialista,
independente da influência soviética e com garantias de liberdades à sociedade,
pudesse passar às nações socialistas e às "democracias populares",
mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 21 de Agosto
de 1968.
Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado a Moscou. Na cidade de Praga a população
reagiu à invasão soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas.” (Wikipédia, 2012)[7]
Com
todos os esforços de resistência não foram suficientes em poucas horas o pacto
de Varsóvia tomou Praga e dissolveu os revoltosos, porém chegaram a um impasse
político: as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista
fracassaram e a população tcheca foi eficiente em minar a moral das tropas. As
reformas foram canceladas, e o antigo regime de partido único continuou a
vigorar.
A
primavera Árabe a mais recente e se compara em extensão e reivindicações a
primavera dos povos, mas, contudo, as reivindicações foram variadas de acordo
com o contexto político de cada país envolvido.
“Os protestos, de índole
social e, no caso de Túnis, apoiada pelo exército,
foram causados por fatores demográficos estruturais, condições de vida duras
promovidas pelo desemprego, ao que se aderem os regimes
corruptos e autoritários revelados pelo vazamento de telegramas diplomáticos dos Estados Unidos divulgados pelo Wikileaks.
Estes regimes, nascidos dos nacionalismos árabes dentre as décadas de 1950
e 1970, foram se convertendo em governos
repressores que impediam a oposição política credível que deu lugar a um vazio
preenchido por movimentos islamistas de diversas índoles.” (Wikipédia, 2012)[8]
As
más condições de vida nos países árabes, desemprego e autoritarismo, injustiças
políticas e sociais e falta de liberdade. Foram também motivações para os
levantes em vários países no norte da África e no Oriente Médio. Em 2008 a
chamada crise do subprime afeta os países do norte africanos, fazendo crescer
os níveis de pobreza e a carestia nos produtos básicos, e consequentemente
provocando fomes e desempregos. E essas causas são partilhadas por toda região
norte africana. Vários protestos foram desencadeados derrubando os ditadores e
implantando as eleições democráticas nesses países.
“Resultaram na derrubada
de três chefes de Estado: o presidente da Tunísia,
Zine El Abidine Ben
Ali, fugiu para a Arábia Saudita
em 14 de janeiro, na sequência dos protestos da Revolução de Jasmim; no Egito, o presidente Hosni Mubarak
renunciou em 11 de Fevereiro de 2011, após 18 dias de protestos em massa,
terminando seu mandato de 30 anos; e na Líbia, o presidente Muammar al-Gaddafi, morto em tiroteio após ser capturado
no dia 20 de outubro e torturado por rebeldes, arrastado por uma carreta em
público, morrendo com um tiro na cabeça.” (Wikipédia, 2012)[9]
Após
esses incidentes vários lideres árabe anunciaram intenções de renunciar seus
cargos políticos, outros anunciaram que não iriam tentar eleição. A primavera
Árabe continua a mostrar seus efeitos na atualidade, como é o caso do Egito com
a queda da ditadura e eleição do presidente em 2012.
[1] Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Editora Objetiva.
[2]
SOUSA. Rainer, artigo Primavera dos Povos, Equipe Brasil Escola portal R7.
Disponível em http://www.brasilescola.com/historiag/primavera-dos-povos.htm data de acesso: 26/07/2012
[3]
Ibid.
[4]
Ibid.
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_de_Praga
[6]
Ibid.
[7] http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_de_Praga
[8] http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_%C3%81rabe
[9] http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_%C3%81rabe
Um comentário:
Olá, achei muito interessante esse artigo...mas creio também lançar outros olhares, como por exemplo a questão: Seria uma primavera árabe ou um inverno islâmico???? Há mais intensidade nesses jogos de poder do que o verniz democrático-libertário...
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