ESTE TEXTO FAZ PARTA DA MINHA MONOGRAFIA
Os
tópicos anteriores serviram para analisarmos a importância das feiras para a
formação dos povoados que através do comércio deu origem as principais cidades
das rotas comerciais europeia, nesse contexto do renascimento comercial e
urbano na Idade Média, partindo desse pressuposto, assimilamos que para compreender
o processo histórico da formação de uma cidade engloba estudá-la sobre seus
vários aspectos, sociais, políticos, econômicos, culturais, que vem desde o
momento em que as cidades deixaram de serem exclusivos centros administrativos
e passaram a serem centros urbanos populosos. Compartilhamos da concepção de Le
Goff (1998) a respeito do fenômeno urbano, no qual eruditamente descreve a
cidade medieval como um lugar de abundância, produção e trocas, onde se
misturam artesanato e comércio, alimentados por uma economia voltada para o
dinheiro e o lucro. O que nos chama a atenção em Le Goff (1998) é sua
caracterização da cidade medieval, que segundo ele o processo de formação das
cidades modernas não se difere da medieval, dessa forma existe uma ligação
direta da formação das cidades com a economia. A cidade é movimentada pela
economia, das relações sociais, o nascedouro de um novo sistema de valores
trazido pelo labor do trabalho. E nesse contexto a feira livre movimentava a
cidade, trazia fluxos migratórios de ambulantes e tropeiros com seus produtos.
“A cidade é também um lugar de prazeres, de festas e diálogos nas ruas” (LE
GOFF, 1998). Seguindo na caracterização do autor, “as atividades econômicas se
instalavam no próprio coração da cidade sendo essencialmente os locais de
abastecimento”. Mas a feira trazia consigo todo esse espetáculo das relações
sociais nas cidades, que para Le Goff (1998) se expressa nas feiras.
A
cidade para Le Goff (1998) é um lugar de trocas, de informações e de vida
cultural, e essas funções estão presentes num lugar urbano chamado feira, pois
lá se encontram as camadas sociais que compõe a sociedade. As vilas e cidades
nascem dentro nesse contexto econômico das feiras, e elas estão ligadas
intrinsecamente a economia e dela se alimentam e isso é comprovado em cidades
como Paris, Veneza, Gênova, centros distribuidores da Europa Ocidental.
As
feiras foram organizadas de forma itinerante, fazendo com que os comerciantes
se deslocassem de um lugar para outro formando assim o circuito das feiras.
Pois na medida em que as feiras cresceram em seus lugares onde se instalavam
foram se formando centros urbanos. Como afirma Silva, (1995)
[...] Assim, os comerciantes tinham
que se deslocar de um lugar para outro. A partir daí, o comércio aumentou em
grandes proporções e as feiras começaram a crescer. Em virtude desse tipo de
comércio, foram criados povoados próximos aos locais de instalação que,
posteriormente, tornaram-se cidades. (SILVA 1995 p. 67)[1]
Nesse
contexto as feiras exerceu papel importante na formação das cidades e povoado
próximo aos locais de realizações. Como também com a circulação monetária e na
manutenção do capitalismo e no surgimento das principais cidades. Para Braudel
(1995)
[...] As feiras possuem
duas funções, econômica e de divertimento. Considera ainda as feiras como uma
economia de grande porte e muito importante para o desenvolvimento do
capitalismo nas regiões onde se instalam. (SILVA, 1995 apud. BRAUDEL p.67)[2]
As feiras exercem um papel importante no
desenvolvimento de uma região e de uma cidade, em vários aspectos tais como: Na
economia, nas relações sociais, no desenvolvimento urbano e na vida dos seus
moradores. Através da força laboriosa do trabalho e da busca por mercados as
feiras movimentam regiões, trazendo progresso e desenvolvimento. Uma
característica que já foi menciona acima e que será melhor explicada aqui é a sua dinâmica de locomoção,
os chamados circuitos que faziam com que os feirantes circulassem em várias
feiras num período curto.
Assim,
como ocorreu na Europa durante a Idade Média, no Brasil as feiras constituem um
fenômeno formador de cidades, na região nordeste pelo clima desfavorável e pela
necessidade de abastecimento se fortaleceu e resiste ainda à era dos supermercados.
Cada cidade possuía sua feira na região nordeste e era peculiar à cultura do
povo nordestino. Esse fenômeno urbano como vimos no decorrer do texto é uma das
características que as feiras trazem no decorrer dos séculos e está diretamente
entrelaçado o desenvolvimento econômico com o erigir das cidades. Mas com a
chegada da urbanização, adveio um grande e sedentário mercado, que oferecem uma
variedade de produtos e serviços, além das vantagens monetárias. A região
Nordeste do Brasil é caracterizada pela formação urbana através das feiras, que
no século XVII eram os principais pontos de comercialização de excedentes,
[...] As feiras têm
uma grande vinculação com a região Nordeste do Brasil, já que é a partir
destas, que ocorre o abastecimento das mercadorias destinadas a atender ás
necessidades da população caracterizando a presença de um mercado periódico,
típico de países subdesenvolvidos, que também atrai consumidores de cidades
próximas, gerando fluxos de pessoas, capitais e mercadorias. (SILVA 1995)[3]
Cidades pernambucanas como Caruaru,
Olinda, Goiana, Igaraçu vinculadas ao comercio do gado, junto às cidades
baianas Dias D’avila, Nazaré, Conceição da
Feira e Feira de Santana, surgiram em decorrência desse comércio, que foi o
motor induzidor econômico, social e cultural. Com o urbanismo veio a principal
causa da decadência das grandes feiras na Europa e no Brasil, pois o comércio
volante perdera sua dinâmica espacial, passando a ser um comércio sedentário,
as feiras deixam de ser grandes circuitos e passam a ser comércio local. A
feira livre ainda encara muitos desafios para conseguir se manter até os dias
de hoje, sem fugir de suas origens.
Por Elson Cassiano
Historiador/UERN
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