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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

As contribuições da feira livre para o urbanismo





 ESTE TEXTO FAZ PARTA DA MINHA MONOGRAFIA

Os tópicos anteriores serviram para analisarmos a importância das feiras para a formação dos povoados que através do comércio deu origem as principais cidades das rotas comerciais europeia, nesse contexto do renascimento comercial e urbano na Idade Média, partindo desse pressuposto, assimilamos que para compreender o processo histórico da formação de uma cidade engloba estudá-la sobre seus vários aspectos, sociais, políticos, econômicos, culturais, que vem desde o momento em que as cidades deixaram de serem exclusivos centros administrativos e passaram a serem centros urbanos populosos. Compartilhamos da concepção de Le Goff (1998) a respeito do fenômeno urbano, no qual eruditamente descreve a cidade medieval como um lugar de abundância, produção e trocas, onde se misturam artesanato e comércio, alimentados por uma economia voltada para o dinheiro e o lucro. O que nos chama a atenção em Le Goff (1998) é sua caracterização da cidade medieval, que segundo ele o processo de formação das cidades modernas não se difere da medieval, dessa forma existe uma ligação direta da formação das cidades com a economia. A cidade é movimentada pela economia, das relações sociais, o nascedouro de um novo sistema de valores trazido pelo labor do trabalho. E nesse contexto a feira livre movimentava a cidade, trazia fluxos migratórios de ambulantes e tropeiros com seus produtos. “A cidade é também um lugar de prazeres, de festas e diálogos nas ruas” (LE GOFF, 1998). Seguindo na caracterização do autor, “as atividades econômicas se instalavam no próprio coração da cidade sendo essencialmente os locais de abastecimento”. Mas a feira trazia consigo todo esse espetáculo das relações sociais nas cidades, que para Le Goff (1998) se expressa nas feiras.
A cidade para Le Goff (1998) é um lugar de trocas, de informações e de vida cultural, e essas funções estão presentes num lugar urbano chamado feira, pois lá se encontram as camadas sociais que compõe a sociedade. As vilas e cidades nascem dentro nesse contexto econômico das feiras, e elas estão ligadas intrinsecamente a economia e dela se alimentam e isso é comprovado em cidades como Paris, Veneza, Gênova, centros distribuidores da Europa Ocidental.
As feiras foram organizadas de forma itinerante, fazendo com que os comerciantes se deslocassem de um lugar para outro formando assim o circuito das feiras. Pois na medida em que as feiras cresceram em seus lugares onde se instalavam foram se formando centros urbanos. Como afirma Silva, (1995)

[...] Assim, os comerciantes tinham que se deslocar de um lugar para outro. A partir daí, o comércio aumentou em grandes proporções e as feiras começaram a crescer. Em virtude desse tipo de comércio, foram criados povoados próximos aos locais de instalação que, posteriormente, tornaram-se cidades. (SILVA 1995 p. 67)[1]
           
Nesse contexto as feiras exerceu papel importante na formação das cidades e povoado próximo aos locais de realizações. Como também com a circulação monetária e na manutenção do capitalismo e no surgimento das principais cidades. Para Braudel (1995)

[...] As feiras possuem duas funções, econômica e de divertimento. Considera ainda as feiras como uma economia de grande porte e muito importante para o desenvolvimento do capitalismo nas regiões onde se instalam. (SILVA, 1995 apud. BRAUDEL p.67)[2]

As feiras exercem um papel importante no desenvolvimento de uma região e de uma cidade, em vários aspectos tais como: Na economia, nas relações sociais, no desenvolvimento urbano e na vida dos seus moradores. Através da força laboriosa do trabalho e da busca por mercados as feiras movimentam regiões, trazendo progresso e desenvolvimento. Uma característica que já foi menciona acima e que será melhor  explicada aqui é a sua dinâmica de locomoção, os chamados circuitos que faziam com que os feirantes circulassem em várias feiras num período curto.
Assim, como ocorreu na Europa durante a Idade Média, no Brasil as feiras constituem um fenômeno formador de cidades, na região nordeste pelo clima desfavorável e pela necessidade de abastecimento se fortaleceu e resiste ainda à era dos supermercados. Cada cidade possuía sua feira na região nordeste e era peculiar à cultura do povo nordestino. Esse fenômeno urbano como vimos no decorrer do texto é uma das características que as feiras trazem no decorrer dos séculos e está diretamente entrelaçado o desenvolvimento econômico com o erigir das cidades. Mas com a chegada da urbanização, adveio um grande e sedentário mercado, que oferecem uma variedade de produtos e serviços, além das vantagens monetárias. A região Nordeste do Brasil é caracterizada pela formação urbana através das feiras, que no século XVII eram os principais pontos de comercialização de excedentes,

[...] As feiras têm uma grande vinculação com a região Nordeste do Brasil, já que é a partir destas, que ocorre o abastecimento das mercadorias destinadas a atender ás necessidades da população caracterizando a presença de um mercado periódico, típico de países subdesenvolvidos, que também atrai consumidores de cidades próximas, gerando fluxos de pessoas, capitais e mercadorias. (SILVA 1995)[3]

            Cidades pernambucanas como Caruaru, Olinda, Goiana, Igaraçu vinculadas ao comercio do gado, junto às cidades baianas Dias D’avila, Nazaré, Conceição da Feira e Feira de Santana, surgiram em decorrência desse comércio, que foi o motor induzidor econômico, social e cultural. Com o urbanismo veio a principal causa da decadência das grandes feiras na Europa e no Brasil, pois o comércio volante perdera sua dinâmica espacial, passando a ser um comércio sedentário, as feiras deixam de ser grandes circuitos e passam a ser comércio local. A feira livre ainda encara muitos desafios para conseguir se manter até os dias de hoje, sem fugir de suas origens.
Por Elson Cassiano
Historiador/UERN


[1] SILVA. Edmilson Menezes da Silva. Artigo: O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DA FEIRA LIVRE DE UMBAÚBA, 1989 a 2009. Apud. Fernand Braudel. O jogo das trocas. Rio de Janeiro: Cosmos, 1995, p. 67.
[2] Ibid. p.67
[3] Ibid. p.67

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