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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Condição humana e sua complexidade em Edgar Morin





O tesouro da humanidade está na diversidade criadora, mas a fonte da sua criatividade está na sua unidade geradora. [15]
A capacidade de produção simbólica, de construção cultural, de pensamento e consciência, de planejamento da vida, nos distancia dos demais animais. Entretanto, nossa animalidade também faz parte de nossa constituição, sem ela, não somos, não existimos. Somos parte da natureza. Morin adverte-nos para o fato de nossa condição cósmica, física, terrestre e ao mesmo tempo humana [16].
Nossa animalidade é testemunhada pelo nosso enraizamento no cosmos e nossa humanidade testemunha nossa possibilidade de alçar vôo e de desenraizarmo-nos. [17]
Somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas devido à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos que nos parece secretamente íntimo. Nosso pensamento e nossa consciência fazem-nos conhecer o mundo físico e distanciam-nos dele. O próprio fato de considerar racional e cientificamente o universo separa-nos dele. Desenvolvemo-nos além do mundo físico e vivo. É neste ‘além’ que tem lugar a plenitude da humanidade. [18]
No humano do humano, Morin destaca a unidualidade biológica e cultural e os circuitos [19]: cérebro/mente/cultura [20], sendo cada um dos termos é necessário ao outro;  razão/afeto/pulsão, em que as relações entre as três instâncias não são apenas complementares, mas também antagônicas; e indivíduo/sociedade/espécie: “todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana” [21].
A visão unilateral que “define o ser humano pela racionalidade (Homo sapiens), pela técnica (Homo faber), pelas atividades utilitárias (Homo economicus), pelas necessidades obrigatórias (Homo prosaicus)” [22] deverá ser abandonada. Caracteres antagonistas estão presentes no ser humano; o delírio, o jogo, a imaginação e o consumismo também são partes constitutivas do ser humano. O ser humano é uno e diverso ao mesmo tempo, em sua individualidade e em sociedade.
Há uma unidade humana; uma diversidade humana. Há unidade na diversidade humana, diversidade na unidade humana. A unidade não está somente nos traços biológicos da espécie homo sapiens. A diversidade não está somente nos traços psicológicos, culturais, sociais do ser humano. Há também uma diversidade, propriamente biológica, na unidade humana e uma unidade mental, psíquica, afetiva. Essa unidade/diversidade vai da autonomia ao mito. [23]
O ser humano não consegue viver só de racionalidade, autonomamente. Ele carece do afetivo, do lúdico, do imaginário tal qual é capaz de objetividade e racionalidade, ele é homo complexus [24]. Entretanto a educação formal, na maioria das vezes, privilegiou a racionalidade [25] e ignorou as aptidões lúdicas, imaginárias e míticas no processo de ensino-aprendizagem.
Morin, ao considerar o aspecto mítico do ser humano, introduz o tema da noosfera que diz respeito ao “mundo vivo, virtual e imaterial, constituído de informações, representações, conceitos, ideias, mitos que gozam de uma relativa autonomia e, ao mesmo tempo, são dependentes de nossas mentes e de nossa cultura” [26]. Mitos e ideias originam-se em nossas mentes e ganham consistência e poder, “não somos apenas possuidores de ideias, somos também possuídos por elas, capazes de morrer ou matar por uma ideia” [27]. Na verdade, Morin entende que “somos os criadores e criaturas do reino do mito, da razão, da técnica, da magia” [28].
À educação cabe ajudar as mentes a se movimentarem na noosfera, entendendo que mitos e ideias são meios de comunicação, mas também podem tornar-se meios de ocultação.
No ser humano, “o desenvolvimento do conhecimento racional-empírico, técnico jamais anulou o conhecimento simbólico, mítico, mágico ou poético” [29]. O estudo da complexidade humana será uma das vocações da educação do século XXI, sendo necessária e urgente “a re-ligação dos saberes”.

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