A problemática do livro
o que é arte nos é apresentada logo na introdução o autor parte da própria
conceituação sua problemática principal que afirmar ser uma coisa difícil de
definir. Muitos tratados de estética procuraram solucionar esse problema,
procurando posicionar ou definir o conceito, entretanto segundo o autor se
procurar uma resposta clara e definitiva, iremos nos decepcionar, pois elas são
divergentes e contraditórias.
Em meio a essa
indefinição o autor nos leva para algo que nos impressiona ao afirmar que mesmo
sem possuirmos uma definição clara e lógica do conceito, qualquer pessoa que
tenha algum contato com a cultura, consegue elucidar alguma obra de arte, isto
ocorre por que “Nossa cultura possui uma noção que denomina solidamente algumas
de suas atividades e as privilegia, e isto ajuda-nos a identificar e nos
comportar diante á obra de arte”.
Para o autor nossa
atitude diante da ideia de arte é de admiração, e nos dar uma definição pouco
profunda da arte como certas manifestações da atividade humana diante das quais
nosso sentimento é admirativo.
Coli nos expõe que
mesmo sem termos a definição criteriosa do que é arte, podemos ficar
tranquilos, pois senão conseguirmos saber o que é arte, pelos menos, sabemos
quais coisas correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante
delas. Todavia segundo ele essa aparente tranquilidade não dura muito se
quisermos escapar ao superficial e nos aprofundarmos um pouco na problemática.
O que se pode perceber
é que nem todas as obras se adequam a classe elevada de arte, que o autor vai citar
como exemplo dessa dificuldade obras como as de Marcel Duchamp, feitas com
materiais do nosso cotidiano, como vaso de louça, iguais aos que temos em
nossos banheiros, porém expostos num museu, à ideia que temos sobre arte não
levaria em conta esses objetos. Isto mostra que mesmo sendo a arte uma noção
solida e distinta tem seus limites imprecisos.
Fica a dúvida, como
saber o que é ou não obra de arte? Outra tarefa que o autor considera difícil
responder com uma definição que parta da natureza da arte é tarefa vã. Se não podemos encontrar a partir do interior
buscaremos fora dela.
Conforme Coli existe em
nossa cultura forças que determinam a atribuição do qualificativo “arte” a um
objeto, tendo isso em mente tudo se ilumina, pois para decidir o que é ou não
arte, nossa cultura possui instrumentos específicos, que o autor vai nos
apresentar como o discurso sobre o objeto artístico, que dar o reconhecimento,
competência e a autoridade, e que é proferido pelo crítico, pelo historiador da
arte, pelo perito, conservador do museu, são eles que conferem o estatuto de
arte ao objeto. Nossa cultura prevê locais específicos onde à arte pode se manifestar
locais que também dão estatuto de arte a um objeto, museus, galerias, cinema,
sala de concertos etc. No caso da arquitetura evidentemente que não se dar para
transporta-las, se dar o tombamento pelos serviços do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional.
Com a revolução
industrial no século XVIII surgiram as maquinas que permitiu a produção de
objetos em quantidades e a partir de então se estabeleceu uma distinção nítida
entre os objetos produzidos industrialmente e as obras de artes. Esses avanços
dos meios técnicos e as tecnologias que utilizam a produção sem a interferência
humana dificulta mais ainda a definição de arte.
Coli traça a trajetória
da arte que se instala no mundo por intermédio do aparato cultural que envolve
os objetos, o discurso, o local, as atitudes de admiração, são instrumentos
junto com a própria noção de arte são especifico de nossa cultura, que permitem
a manifestação do objeto artístico dando-lhe o estatuto de arte, além de
escolher que tipo de objeto será considerado arte, criando categorias que
classifica os melhores entre ou autores de uma forma de expressão artística,
com base em certos juízos críticos visíveis ou não, tomando por base a
utilização de duas obras especializadas o critico pode afirmar que uma obra
sobressai sobre outra.
Na tentativa de
classificar o objeto artístico do não artístico o autor nos afirma que os
instrumentos que citamos acima não se limitam a traçar uma linha divisória que
separando os objetos artísticos e dos não artísticos, não há um contentamento
em criar uma reserva de arte. Assim intervêm na disposição relativa dos objetos
artísticos, criando os critérios de analise dos objetos, que Coli irá chamar de
hierarquia dos objetos artísticos. Como percebemos, nessa hierarquia criada com
base na classificação feita pela critica, a posição máxima de uma obra de arte
pertence a uma categoria que nossa cultura classifica como obra prima.
A crítica tem o poder
não só de atribuir o estatuto de arte a um objeto, mas também de classificá-lo
numa ordem de excelências segundo critérios próprios. O conceito e a noção de
obra prima são antigos e não possui o sentido que assumiu com o passar do tempo.
A partir do século XIV
os ofícios oferecidos pelos ateliês passaram a ser também um local de
aprendizagem, tinha um mestre que, dono das matérias primas e dos instrumentos
de fabricação, que ensinava os aprendizes, que começavam desde a infância. Esses
ateliês se organizavam em corporações que defendiam os interesses dos artesões
e formavam regras rigorosas, como por exemplo, se exigia que o proprietário
desses ateliês fossem mestres. E para o aprendiz se tornar mestre era
necessário se apresentar em concurso perante outros mestres da corporação,
apresentando uma obra de sua autoria que pudesse ser tida como perfeita,
demonstrando domínio total das técnicas que o oficio exigia, ou seja, produzir
uma obra prima. Hoje o julgamento é proferido por profissionais do discurso que
utilizam os mais variados critérios e julgamento menos precisos, não apenas o
do não saber fazer.
Essa forma de
julgamento por um artesão, parte do conhecimento objetivo que depreende dos
materiais e das técnicas empregadas, e esse fazer que ele conheça, para assim
criar critérios para julgar o fazer de outrem. Segundo Coli o critico não tem o
recurso da objetividade do puro domínio técnico, embora se possam notar falhas
em sua excursão, que são irrelevantes ao crítico. Os discursos que determinam o
estatuto da arte e o valor de um objeto artístico são de outra natureza mais
complexa, mais arbitraria que o julgamento puramente técnico. Os diversos
fatores que influenciam o discurso que determinam o valor da arte e o valor
artístico de uma obra de arte de natureza mais de natureza mais arbitrária. Os
fatores exteriores instaurando a arte em nossa cultura, que determinam a
hierarquia dos objetos artísticos e nos deparamos com divergências de critérios
que nos deixam confusos.
Conforme Coli existe
sem duvidas um consenso geral que valoriza extremamente a obra dos artistas.
Esse consenso não é estável, ele evoluir na história. Percebe-se que o
reconhecimento das obras de artistas como Van Gogh, Le Brun e outros, que o
autor destaca que enquanto esses autores viveram o consenso geral recursou-se a
julga-lo positivamente. Embora nossa sensibilidade tenha evoluído em comparação
ao passado ela não garante a consagração definitiva da arte no decorrer da
evolução histórica do consenso.
Coli nos diz que seria
um tanto abusivo acreditar que o nosso juízo de hoje determina o reconhecimento
definitivo. O autor nos alerta que a critica amanha poderá nos mostrar que
estávamos enganados, e que o interesse dessa pintura, afinal de contas, não era
assim tão grande. Isso nos leva a agitações no interesse de determinados
autores, que em certos períodos são valorizados e posteriormente caem no total
esquecimento, correndo o perigo de não de perder seu valor definitivamente.
O autor destaca que o
barroco, maneirismo, art nouveau, neoclassicismo, entre outros grandes
movimentos da história da arte, passaram por fortes oscilações entre o
interesse e o desprezo.
De acordo com Coli os
discursos que determinam o estatuto e o objeto das artes ao são unânimes nem
constantes. E essa segurança enquanto critério de julgamento pode ser
questionado, pois são contraditórios tanto na atribuição do estatuto da arte
quanto na determinação da hierarquia. Embora certas obras parecem possuir a
atemporalidade segundo a autor isso não tira o caráter institucional da autoridade do discurso. Além disso, a ideia
de critério conforme Coli aparece como um esquema que perturba nossa
aproximação com a arte.
O próprio conceito de
estilo nos leva a ideia de repetição, de constâncias formais, que se
estabelecem sobre o principio de inter-relações dessas constantes dentro da
própria arte. Que podem ser percebida não somente em uma obra, mas em uma serie
de obras e em todas as formas de arte. Entretanto o artista pode optar por manter
o mesmo estilo em toda sua produção, outra vez pode desenvolver em sua produção
novas tendências estilísticas diferentes, que será as fases distintas do
artista.
Essas constâncias vão
além das obras e nos permite uma noção suficiente do estilo que caracteriza um
autor e assim fará com que identifiquemos sua obra. As diversas épocas
constituem de certa forma como um pano de fundo estilístico comuns com as obras
de autores contemporâneos, no entanto de estilos diferentes, pois existe um
elemento comum que é a própria época em que produziram.
A classificação
estilística nos dar a facilidade de nos relacionarmos com as artes, entretanto
ela não satisfaz as necessidades fundamentais de nossa apreensão. Pois as obras
são complexas e por natureza foge das classificações, que também tem suas
complexidades e está longe de se reduzir a uma definição logica e formal,
fazendo da relação entre obras e conceitos bastante complexa.
As definições formais
exageram não suportando totalmente as qualificações estilísticas que, todavia
não são logicas, mas históricas evoluindo de acordo com os períodos que as
utilizam. Doravante o artista se autodenomina e outrora essa denominação é
atribuída a outrem e essa poderá ser criada a posteriori para identificar na
historia algum grupo de artistas. Entretanto essa relação entre denominadores e
obras jamais ocorre da mesma forma e podem até traduzir uma visão global, a
todo um conjunto de subsídios que ultrapassam a formal especificidade da
produção artística.
André Breton que foi um
dos idealizadores do surrealismo reconhecia certas técnicas, certas
metodologias, como a escrita automática que alinham palavras ou expressões tais
como aparecem espontaneamente, em associações, sem controle consciente ao
espirito do artista. Ele reconhecia conquanto necessária, não eram suficientes
para a realização de uma obra surrealista e nem tampouco os únicos meios para
liberar o inconsciente. Coli nos diz que um dos perigos da classificação
estilística de autores é a sua utilização como universal e dessa forma tendemos
a dar maior importância à classificação em detrimento a obra artística.
Coli irá nos dizer que
o principio das classificações baseadas na ideia de estilo deu, em particular á
história da arte, a esperança de um instrumento objetivo e eficaz. A partir
daqui sendo necessária a distinção entre a função do critico e da do
historiador da arte, sendo uma distinção forma, pois na maior parte das vezes
essas atividades se entrelaçam.
O critico analisa como
um juiz as obras, sua função é eminentemente seletiva, cabe a ele valorizar ou
desvalorizar o objeto artístico, o conhecimento da historia da arte lhe serve
para pronunciar a sentença de seu julgamento. Já o historiador da arte procura
evitar julgamentos de valor, mas não consegue evitar inteiramente os critérios
seletivos, pois o conjunto de objetos que estuda supõe uma escolha. Mas se ele
trabalhar a partir de um corpus necessariamente selecionado, o que pretende é
antes de tudo, é articula-lo num conjunto coerente e o compreender.
Esse entendimento, a
suspenção do julgamento significa o desejo de rigor, que se aproxima do
cientifico. E quem primeiro traçou esse caminho para construção de uma
metodologia rigorosa no interior da historia da arte foi Heinrich Wölfflin
(1864-1945) na virada do século. Buscando um método que focalize a obra de arte
exclusivamente na sua especificidade e propõe assim, por primeiro, as bases de
uma analise formal precisa, fundamento de uma história autônoma das artes.
Wölfflin em seu livro
sobre a renascença e Barroco mostra duas inovações essenciais, a primeira é a
revalorização do Barroco que passa a ser considerado degradantemente como uma
evolução grosseira e corroída da arte renascentista, um derivado estéril que
tentava compensar pela extravagancia a ausência de seiva criadora. Wölfflin ver
a arte Barroca como uma produção artística nova e total, com seus próprios
critérios, formas e intenções.
A segunda inovação que
encontramos em Wölfflin é o que determina a autonomia do Barroco e sua oposição
ao classicismo renascentista, é uma analise minuciosa das constantes formais. É
a primeira classificação estilística aplicada em dois períodos da história.
Depois em fundamentos da história da arte (1915) ele amadurece suas reflexões e
estabelece cinco categorias duplas, em oposição que permite caracterizar o
classicismo e o barroco. O que se percebe em Wölfflin é uma analise
categoricamente formal sem reconhecer os temas, desta forma organiza em dois
grupos estilísticos opostos. Entretanto como historiador ele compreende que a
obra tende a escapar dos esquemas e simplificações.
Wölfflin procura ser
cauteloso em seu discurso, passando para uma análise do concreto. Sua procura
pelo rigor é diligente, pois tem por base num instrumento pobre, que não
pretende expandir a multiplicidades da produção artística estudada, mas servirá
de base. Apesar das inquietações de Wölfflin, encontramos em sua obra um
formalismo categórico que se pretende incondicional clave explicadora.
Em Wölfflin vimos que
as obras trazem as constantes que permitem a ele situá-las em campos opostos.
Mas em muitas outras abordagens, o molde é fabricado antecipadamente, o metro é
uma abstração, e se impõe exteriormente ás obras.
Eugênio D'Ors,
brilhante pensador catalão, foi, podemos dizer um herdeiro perverso de
Wölfflin. Em 1928 escreve O Barroco, texto ilustre, no qual sua erudição imensa
e sua inteligência propõem a aproximação do conceito independentemente da
história, querendo-o de uma natureza científica, classificatória e universal,
como na zoologia e botânica.
De acordo com D’Ors, o
barroco seria um "gênero" que agruparia fenômenos culturais
temporalmente distantes, mas possuindo constantes determinadoras comuns. Como
nas classificações da botânica e da zoologia, esses fenômenos possuem
constantes, eles possuem também especificidades, definirão as
"espécies" do barroco. Ele classifica em vinte e duas categorias ao
todo.
É um tanto complicado
confrontar os diversos autores, apreender a delicadeza do conceito, que não nos
leva ao esclarecimento. Wölfflin, historiador das formas, concebe duas
categorias historicamente situadas em sucessão; D'Ors toma uma delas e
universaliza-a brilhantemente, sacrificando o rigor. A outra categoria, o classicismo,
embora sem um teórico da mesma envergadura que D'Ors, será também
universalizada. Dessa ideia de modelo-mestre, ela passa a significar
equilíbrio, rigor, tranquilidade, racionalidade. Para um espírito rigoroso,
essas universalizações são insatisfatórias. E sentindo as dificuldades das
categorias, um esteta e historiador da arte dos mais importantes do século XX
tentou elaborar um sistema dinâmico da evolução das artes. Para Wölfflin e
D'Ors, os conceitos são estéticos, eles agrupam, e nada mais.
História da arte,
crítica, museu, teatro, cinema de arte, salas de concerto, revistas
especializadas: instrumentos da instauração da arte em nosso mundo. Eles
selecionam o objeto artístico, apresentam-no ou tentam compreendê-lo — através
deles a arte existe. São como também a arte, específicos e indissociáveis de
nossa cultura.
De acordo com Coli a
noção de arte que hoje possuímos - leiga enciclopédica - não teria sentido para
o artesão-artista que esculpia os portais românicos ou fabricava os vitrais
góticos. Desse modo, o "em si" da obra de arte, ao qual nos
referimos, não é uma imanência, é uma projeção. O autor nos diz que somos nós
que enunciamos o "em si" da arte, aquilo que nos objetos é, para nós,
arte. É difícil delimitar a linha que separa os objetos artísticos dos não
artísticos: isso vem em parte do fato de que essa vocação enciclopédica do
"para nós" é onívora.
Coli irá nos mostrar
que as perturbações interpostas entre nós e as obras não são unicamente de
natureza imaterial. Muito ao contrário, os objetos que vamos buscar por vezes
muito longe no tempo e no espaço, e que passam a incorporar nosso corpus
artístico, têm uma existência muito concreta. Se quisermos que estejam
dispostos "para nós", ao nosso alcance em museus, cinematecas,
bibliotecas, essa existência concreta é evidentemente essencial. Existiram, e
ainda existem, algumas manifestações artísticas irremediavelmente efêmeras. Coli
cita Mário de Andrade disse uma vez que a arte não é um elemento vital, mas um
elemento da vida. Não nos é imediatamente necessária como a comida, as roupas,
o transporte e descobrimos nela a constante do supérfluo, do inútil.
O autor chega à
conclusão que se a arte é associada a um objeto útil, ela é, nele, o supérfluo.
Para Coli não se trata apenas de embelezamento, de ornamento. Trata-se de algo
próprio à ideia que possuímos da arte. Portanto, em nossa cultura, ela se encontra
no domínio da pura gratuidade. Há algum tempo, houve uma corrente de gosto que
buscava nas formas exigidas pelas funções dos objetos a manifestação da arte. Ela
foi chamada, por vezes imprópria ou obscuramente, de funcionalismo. Este,
embora se quisesse fundamentado numa reflexão racional sobre as funções, era,
em verdade, uma poética do funcional.
Por Elson Cassiano
Historiador/UERN
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed., Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995
SERGIO, Fernandes. ZIMALDO, Baptista De
Melo. Resenha Do Livro “O Que É Arte” De
Jorge Coli. UFRB. Bahia 2010.
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